
Experimenta Design’09, Palácio Braamcamp, Pátio do Tijolo 25, 9 de Setembro a 8 de Novembro de 2009.
CEMES em parceria com a ESAD Matosinhos.
Neste projecto, comissariado por José Manuel Bártolo, foram convidados nove designers portugueses questionando-os acerca das motivações que os mobilizam, das preocupações que os motivam, das mensagens que sentem urgência em comunicar. O desafio lançado passa por, a partir da extraordinária colecção de cartazes do espólio Ernesto de Sousa, e das inúmeras mensagens culturais, sociais e políticas por eles veiculados, escolherem um cartaz e através dessa escolha – perspectivando-a e perspectivando-se relativamente a ela – afirmarem o que é, hoje, urgente mostrar.
Participantes:
Aurelindo Jaime Ceia
Barbara Says…
Braço de Ferro
Diogo Vilar
Drop
Mário Moura
Martino&Jaña
Paulo T. Silva
R2
O que é Urgente Mostrar
José Bártolo
“A Crítica é uma opção ou uma necessidade? Em Portugal uma necessidade!”
Almeida Garrett citado por Ernesto de Sousa
Do espólio de Ernesto de Sousa, faz parte uma colecção de mais de 600 cartazes que documentam um período determinante da criação artística contemporânea e dos processos de transformação social e política que, entre as décadas de 1960 e 1980, se dão em Portugal e no mundo. Não se trata, no entanto, de uma simples reunião de cartazes – sobre política, arte, teatro ou turismo – produzidos num certo período histórico, mas antes uma preservação, vasta mas crítica, de uma determinada memória colectiva levada a cabo pelo espírito inquieto, inovador e transgressor que caracterizava o artista plástico, cineasta, ensaísta, comissário de exposições, crítico e professor Ernesto de Sousa.
O Que é Urgente Mostrar é uma exposição de cartazes que envolve nove designers portugueses a quem foi lançado o desafio de expressarem a sua mensagem urgente através da escolha de um cartaz do Espólio Ernesto de Sousa ao qual deverão associar um cartaz de sua autoria. Através de um processo de diálogo, identificação ou confronto entre duas contemporaneidades é o próprio estatuto do cartaz, a sua função e lugar na actualidade, que é questionado, mediante a reflexão sobre as grafias e as mensagens, continuidades e rupturas, promovidas por designers de diferentes gerações.
Os cartazes exibidos permitem uma aproximação a dois contextos culturais – o de Ernesto de Sousa e o dos 9 designers actualmente em actividade – cujas afinidades e diferenças podem ser, a partir daqui, perspectivadas, lançando pistas (serão sempre, apenas, pistas) para uma reflexão sobre processos, linguagens e posicionamentos que relevam da actividade produtiva de um designer. Igualmente, pistas, que poderão devir percursos, serão lançadas sobre um conjunto de momentos, movimentos e eventos – do Novo Realismo ao Fluxus – determinantes para a compreensão das propostas de uma arte comprometida com a vida, lançadas a partir dos anos 50, e nas quais reside uma tradição que, em nome da lucidez crítica, merece ser redescoberta, na contemporaneidade, como aventura.
Se Ernesto de Sousa se dedicou activamente a perseguir o “desejo de fazer explodir o triângulo internacional da arte: estúdio-galeria-museu” (para usar a expressão de Harald Szeeman um dos fundadores, à semelhança de Ernesto de Sousa, da curadoria independente contemporânea), trazer uma conjunto de cartazes para uma sala fechada, emoldurando-os e atribuindo-lhes uma aura de peça museológica que originalmente não tinham, talvez encerre algo de contraditório. Mas por outro lado, porque a riqueza de um cartaz não é material antes comunicacional e relacional, parece-nos que a forma mais autêntica de vivenciar aqueles cartazes, de permitir que eles libertem, no tempo presente, a sua força vital, passa por nos relacionarmos naturalmente com eles, por não definir a priori as condições da sua comunicação ou significação, acreditando que o sentido e mensagem que eles contêm dar-se-á a conhecer, num jogo aberto, entre o espectador e a obra.
Ao espectador é, enfim, atribuído o papel determinante de, perante os cartazes expostos, aprender a ver e nesse processo construir um olhar que os experimenta e, assim, os torna actuantes e actuais. Oxalá consigamos, perante eles, ver como se fosse a primeira vez, como “os primeiros passos de uma criança são experimentais e por isso começam algo absolutamente novo”.