Jorge Peixinho, Luiz Vaz 73 [brochura], Lisboa, Galeria Nacional de Arte Moderna
1976
1573 – Luiz Vaz de Camões apresenta em Lisboa o seu poema Os Lusíadas.
Como sabemos, os episódios que se inserem na descrição da viagem de Vasco da Gama têm características bastante divergentes: evocações históricas (de carácter lírico, dramático ou de exaltação patriótica) e ficções mitológicas (de carácter moral ou simbólico). As alegorias mitológicas servem de contraponto à ação "real" (histórica, estabelecendo um perfeito equilíbrio dialético.
1973 – 400 anos mais tarde, durante a minha estadia em Gante, na Bélgica, iniciei a composição de uma obra de música electrónica inspirada e baseada no poema, a qual ficou terminada em 1974.
No ponto de vista formal interessou-me particularmente a permanente interação entre passado, presente e futuro e, por outro lado, a oposição entre os níveis histórico e mitológico.
Sob uma perspectiva ideológica, procurei fazer projetar sobre a atualidade contemporânea os valores progressistas imanentes do poema.
Utilizei como material da obra elementos mais ou menos complexos e classifiquei-os segundo os seus caracteres tipológicos (ruídos coloridos, ondas sinusoidais, triangulares e quadradas, grupos e constelações, figuras melódicas e melismáticas, impulsos, percussões, progressões e expansões harmónicas, etc.).
A partir do material de base e das suas transformações, elaborei em seguida uma nova série de fragmentos, por meio de sobreposições.
A composição global nasceu da montagem definitiva de uma seleção de fragmentos mais ou menos diferenciados (fragmentos originais e manipulações), segundo uma identificação subjetiva dos fragmentos musicais aos episódios mais relevantes do poema. Esta operação foi realizada através de princípios de "correspondência" psicológica e simbólica entre as estruturas sonoras de base e os elementos mais específicos do poema (históricos, lendários ou mitológicos), A esta "correspondência" primária adicionei regras combinatórias baseadas no comportamento de cada estrutura em relação às outras e às circunstâncias exteriores.